Quatro equívocos sobre o COBOL cometidos pelo mercado

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Pela quantidade de artigos publicados esse ano – normalmente com uma foto em preto e branco mostrando um computador dos anos 1950 – parece que alguns analistas, atônitos, descobriram só agora que o COBOL ainda existe.

O aumento da demanda por manutenções corretivas e evolutivas em sistemas baseados em mainframe e COBOL e a falta de mão-de-obra qualificada, fez com que a ficha caísse para alguns: a maior parte dos sistemas de missão crítica em funcionamento ao redor do mundo não foi escrita em C, Java ou PHP.

Christopher O’Malley, presidente e CEO da Compuware, ao contrário, escreveu um artigo na Forbes onde aponta com clareza algumas percepções que a mídia demonstra quando tenta falar sobre COBOL e que ele considera equivocadas.

Segundo O’Malley, primeiramente é importante entender que essa necessidade repentina de manutenção de sistemas legados não foi causada por deficiências em sistemas backend “obsoletos, ainda processados em mainframes”. É o contrário: sistemas legados tiveram que passar por manutenções porque os frontends, normalmente baseados em Java ou PHP, não tiveram capacidade para processar um volume de transações que aumentou dramaticamente por causa da pandemia.

Ele considera uma ironia que tanta crítica infundada tenha surgido justamente no momento em que os sistemas legados deram conta do recado, e propõe uma reflexão sobre o que considera quatro equívocos muito comuns quando se fala sobre COBOL.

Equívoco 1: COBOL é difícil de aprender

Na verdade, aprender COBOL é fácil. É uma linguagem baseada em inglês, com verbos e cláusulas, sem comandos enigmáticos. O problema é que o COBOL “saiu de moda”. À medida em que os computadores se tornaram pessoais, que a web se transformou na nova mídia, e dispositivos móveis e nuvens surgiram, outras linguagens foram ganhando popularidade e o COBOL foi considerado “menos bacana”.

O autor aponta, porém, que o treinamento em COBOL está ensaiando uma volta, principalmente pela crescente demanda por profissionais que programem nessa linguagem, e ele cita a iniciativa de algumas universidades nesse sentido.

Equívoco 2: a escassez de desenvolvedores COBOL no mercado é uma ameaça para as empresas, que não conseguem encontrar mão-de-obra qualificada

O’Malley considera essa uma “meia verdade”. É verdade que os profissionais dessa área estão se aposentando e isso tem feito a demanda aumentar. A origem do problema, no entanto, está nas próprias organizações, que ao longo do tempo isolaram a plataforma, restringindo investimentos em treinamento e suporte para melhorar a experiência do desenvolvedor.

Ele aponta aqui outra ironia: mainframes e sistemas legados fazem o seu trabalho tão bem que muitas empresas tendem a ignorá-los, deixando que eles sobrevivam com pouco apoio e quase nenhum esforço por renovação.

Equívoco 3: O COBOL é velho e não consegue acompanhar as novas necessidades de negócio

O autor afirma que, de fato, o COBOL é uma linguagem com mais de 50 anos, assim como o C. Mas, ao contrário do que muitos pensam, ela continua se atualizando para absorver novas soluções de arquitetura, como containerização e microserviços.

A corrida para transformar as empresas em ambientes digitais autônomos tem acelerado essas atualizações, que buscam substituir pouco a pouco a “natureza exotérica” da plataforma, levando DevOps, CD/CI e melhorias contínuas ao universo do mainframe.

Equívoco 4: é mais barato e mais fácil reescrever os sistemas e movê-los para ambientes distribuídos e nuvens do que dar manutenção no COBOL

Esse ele considera que é o maior equívoco de todos, e menciona que já viu diversas tentativas de migração com resultados desastrosos. Em sua opinião, seria muito mais eficiente modernizar o ambiente mainframe, investindo nos desenvolvedores e no gerencialmento operacional através de Agile e DevOps.

O ambiente na núvem é ideal para diversas aplicações, mas mainframe e COBOL continuam imbatíveis por sua capacidade de processar enormes quantidades de informação com performance, escalabilidade, segurança e confiabilidade.

Conclusão

O’Malley afirma que caraterização do COBOL como uma linguagem desatualizada e cara, incapaz de suportar a computação moderna ou difícil de ser aprendida por desenvolvedores mais jovens, simplesmente não é verdade.

A utilização generalizada e duradoura da linguagem – e do mainframe – por agências governamentais e empresas mostra que ela é ainda mais relevante hoje em dia, mesmo após mais de 50 anos de serviço.

E com gerenciamento e planejamento adequados, pode permanecer relevante por mais 50.


3 comentários sobre “Quatro equívocos sobre o COBOL cometidos pelo mercado

  1. Sim. um especialista em Cobol em todos os seus dialetos conhecimentos de várias ferramentas para Mainframe o mercado não paga bem não desmerecendo outros profissionais de Ti em plataforma baixa. Logo conclui-se quem sabe Cobol CICS/ CSP / DB2 BATCH, VSAM, MVS, ROSCOE, TSO, FILE-AID, REXX, JCL, LIBRARIAN, ENDEVOR, CONTROL-M, CHAGMAN, EASYTRIEVE, OS/Vs e etc…

  2. Tudo é possível e seguro. O Cobol simplesmente foi e é uma linguagem sensacional. Para programar em cobol você precisa ter lógica e conhecer alguns ambientes de desenvolvimento, alguns softwares de armazenamento tanto de dados quanto de versões dos programas, mais JCL, Procedures, Roscoe, Library, Tão, … etc.

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