O protagonismo de Jean Sammet e Mary Hawes
Grace Hopper é considerada por muitos a “avó do COBOL” por ter desenvolvido uma linguagem de programação chamada FLOWMATIC, que viria a ser uma das bases da nova linguagem especificada pelo CODASYL.
Se o COBOL tem uma avó, podemos dizer também que tem duas mães: Jean E. Sammet e Mary K. Hawes. Essas duas pioneiras da Ciência da Computação não só participaram do subcomitê de curto prazo que especificou a linguagem, como foram protagonistas do projeto.
O começo
As mulheres estiveram envolvidas em todo o trabalho de desenvolvimento e construção dos primeiros computadores. Na verdade, inclusive por causa da Segunda Grande Guerra, pode-se dizer que quase todos os primeiros programadores eram do sexo feminino.
O primeiro computador eletrônico de uso geral, conhecido como ENIAC, foi construído por dois engenheiros da Universidade da Pennsylvania, Prosper Eckert e John Mauchly. Mas quem programava eram seis mulheres: Kathleen McNulty, Frances Bilas, Elizabeth Jean Jennings, Frances Elizabeth Snyder, Ruth Lichterman, e Marilyn Wescoff.
Quando Eckert e Mauchly fundaram a Ecker-Mauchly Corporation e começaram a trabalhar no UNIVAC I, muitas outras foram contratadas como programadoras, entre elas, Grace Hopper, Adele Mildred Koss, Frances Holberton, Jean Bartik, Frances Morello, e Lillian Jay.
O fato é que quando o CODASYL foi instituído, algumas cientistas já reconhecidas pelo mercado e pelo meio acadêmico não ficaram de fora: Mary Hawes (Burroughs), Jean Sammet (Sylvania), Frances Elizabeth Holberton (David Taylor Model Basin, base para construção de navios de guerra da Marinha dos EUA), Deborah Davidson (Sylvania), Sue Knap (Honeywell), Nora Taylor (Marinha dos EUA) e Gertrude Tieney (IBM) fizeram parte do subcomitê criado pelo CODASYL para elaborar a primeiro especificação do que viria a ser o COBOL.
Duas delas tiveram um papel determinante.
Mary K. Hawes
Em 1959, trabalhava como Analista de Planejamento de Produto para a divisão de eletrônica da Burroughs Corporation.
Foi dela a iniciativa de buscar patrocínio do Departamento de Defesa dos EUA para desenvolvimento de uma nova linguagem de programação voltada para aplicações comerciais e independente de hardware.
No subcomitê de curto prazo, liderou o grupo que ficou responsável pelo que eles chamavam de data descriptions, isto é, as instruções que seriam usadas pela nova linguagem para declarar arquivos, variáveis de trabalho e parâmetros, algo que hoje conhecemos como DATA DIVISION.
Jean E. Sammet
Mestre em matemática, trabalhou na Sperry Gyroscope de 1955 a 1958, e estava na Sylvania em 1959, quando integrou o subcomitê e liderou o grupo responsável pelo que chamaram de procedural statements, ou seja, o vocabulário, a sintaxe e a semântica do que viria a ser a PROCEDURE DIVISION.
Em 1961 saiu da Sylvania e foi para a IBM, onde permaneceu até se aposentar em 1988. Na IBM, desenvolveu uma linguagem chamada FORMAC, então a primeira linguagem de programação voltada para manipulação sumbólica de fórmulas matemáticas.
Em 1969 escreveu o livro Programming Languages: History and Fundamentals, publicado pela Prentice-Hall. Em 1972, foi autora de um artigo chamado Programming Languages: History and Future, onde apresentou um diagrama que provavelmente você já viu e que vem sendo atualizado por outros autores desde então:
Escreveu mais de 50 artigos, a maioria abordando linguagens de programação, matemática não-numérica e computação simbólica.
Em 1974, foi eleita a primeira mulher na presidência da Association of Computer Machinery, uma associação americana de profissionais ligados à Ciência da Computação. Em 1978 recebeu da Faculdade Mount Holyoke o título de Doutora Honoris-Causa. Em 1989 recebeu o prêmio Lovelace, concedido anualmente pela Associação para Mulheres na Computação. Em 2001, o Museu da História da Computação lhe concedeu o título de fellow, “por sua contribuição no campo das linguagens de programação e sua história”.
Jean Sammet faleceu em 20/05/2017, aos 89 anos.
Conclusão
Uma coisa me chamou a atenção enquanto estava fazendo a pesquisa para escrever esse artigo: nós, que trabalhamos com TI, não damos aos pioneiros da Ciência da Computação a mesma importância que damos a hardwares e e softwares do passado.
É mais fácil encontrar livros, artigos, fotos e até vídeos do ENIAC funcionando do que uma biografia razoável das pessoas que tiveram que botar essas coisas para funcionar. Sem livros, sem manuais e sem professores.
Muitos provavelmente já foram esquecidos, e não mereciam.